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20-09-2006

Uma frieza tão grande


Águeda - Pede pena exemplar para homicida de ex-paraquedista

O Ministério Público pediu, na última segunda-feira, “uma pena exemplar” para o homicida que confessou ao colectivo de juízes do Tribunal Judicial de Águeda ter assassinado, com três tiros, um ex-páraquedista, no dia 13 de Outubro de 2005, num pinhal em Barrô.

“Devido à gravidade do crime, o arguido terá, na perspectiva do Ministério Público, que ser condenado a uma pena que ultrapasse, em larga medida, a média da punição para este tipo de crime (entre 12 e 24 anos de prisão)”, afirmou o Procurador da República Marco António.

“Não se compreende a estratégia do arguido”

Márcio Pires, 26 anos, vendedor de lenha, detido preventivamente, é acusado da prática dos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e detenção de arma ilegal, que lhe poderão valer mais de 20 anos de prisão.

Márcio Pires confessou em tribunal que a vítima o tinha contratado para matar um jovem, residente na zona de Aveiro, a troco de 1500 euros, mas que nunca pensou em cumprir o acordado. Mas que, depois, não conseguiu resistir às ameaças do alegado mandante e acabou-o por matar.

O Procurador da República alegou que "o arguido assumiu os factos, confessou-os, embora tenha sido uma confissão parcial", salientando que “houve aspectos que não quis assumir, nomeadamente, alguns dias antes, a tentativa da venda do carro da vítima”.

“Não se compreende a estratégia do arguido. É algo que está no foro íntimo do arguido, o que nos leva a pensar que não era um plano de última hora, mas um crime premeditado”, alegou o Procurador.

“Uma frieza tão grande”

O Procurador da República recordou que, na sua já longa vida pelos tribunais, já não sentia há muito tempo uma frieza tão grande, afirmando que “o arguido se limitou a dizer que a morte do Jorge Humberto foi um erro”.

Sublinhou ainda que a determinação em tirar a vida à vítima está patente nos próprios disparos que “fez com a nítida intenção da vítima não escapar”. Depois, “o arguido removeu o corpo, denotando um desprezo, deslocou-o do local e meteu-o na mala do carro e andou ainda a passear o cadáver”.

“É toda uma situação de contornos tenebrosos que a nossa sociedade não está habituada, pois uma pessoa encomendou um crime e a outra aceitou. O arguido recebeu parte da importância e ainda entendeu que era pouco e decidiu, por isso, tirar a vida ao Jorge Humberto e tentar vender a sua viatura”.

Já a defensora oficiosa relembrou que “o arguido é uma pessoa que, quando criança, foi abandonado pelos pais e foi criado, desde os 13 anos, sozinho”. E que “a versão do arguido parece ser aceitável ao assumir que levou a sério as ameaças do Humberto Jorge”.

O crime

Recorde-se que o madeireiro confessou ao colectivo de juízes que o, alegado, mandante do crime lhe tinha entregue uma fotografia e a morada da pessoa que pretendia ver morta. "Como não era minha intenção matar o indivíduo, que não conhecia, comecei a ser pressionado e ameaçado pelo Jorge Humberto para cumprir o acordo ou então para lhe devolver o dinheiro". "Foram as ameaças que me obrigaram matá-lo", acrescentou.

Assim, no dia 13 de Outubro de 2005, entre as 20 e as 22 horas, Márcio Pires encontrou-se com o ex-pára-quedista e, acto contínuo, entraram dentro do carro deste, dirigindo-se para um pinhal em Barrô.

"Chegámos e saímos os dois do carro. Empunhei uma arma 6.35 milímetros e disparei três tiros", contou.

Depois de ter abandonado o corpo neste local, dirigiu-se novamente a Óis da Ribeira, regressando mais tarde para meter o cadáver na bagageira e seguir rumo a uma antiga zona de extracção de argilas, em Oliveira do Bairro.

Pedro Fontes da Costa
pedro@jb.pt


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