Uma Portaria do Ministério da Educação determina o seu encerramento já no final deste ano lectivo mas, mesmo assim, foram inauguradas, pelo edil anadiense, Litério Marques, as obras de vulto, de que foi alvo, neste último ano, a Escola Básica 1 de Algeriz, frequentada por apenas seis crianças. Um património de recordação Embora, seja uma escola de lugar único, frequentada por seis crianças (duas do 2º ano, duas do 3º e duas do 4º ano), a professora Maria Alexandra Henriques, que aqui lecciona há dois anos, considera-a “uma boa escola que permite um acompanhamento muito mais individualizado e personalizado”. Por se encontrar em muito mau estado de conservação, a autarquia de Anadia decidiu intervir, levando a cabo obras de vulto, orçadas em mais de 30 mil euros, que implicaram a substituição integral do telhado, piso e sanitários, construção de uma pequena copa/cozinha de apoio e de um espaço para colocar a lenha - esta escola possui uma lareira que, durante o Inverno, a professora acende para tornar o espaço mais acolhedor - pintura interior e exterior e substituição da rede eléctrica. No breve período dedicado às intervenções, Litério Marques começou, em jeito de desabafo, por dizer que a cerimónia “não pode ter um ar de inauguração, já que vai encerrar, tal como acontecerá com muitas outras que a lei sinaliza”. 19 estabelecimentos de ensino no concelho com os dias contados, “numa situação que afecta o concelho de forma muito violenta”, disse. Para o autarca de Anadia, o Governo de José Sócrates “não está a pensar no futuro das pessoas, mas apenas nas finanças públicas”, dado que a Portaria afectará, com o encerramento, mais de 200 as famílias. Situação que considera “dramática” sendo a obra realizada exemplo disso mesmo, apesar das condições que oferece: “é uma escola que tem o mesmo direito a existir que outra qualquer”, lamentou. Considerando ainda que a mesma, depois de encerrada, degradar-se-á mais rapidamente, defendeu ainda que a mesma “deverá constituir um património de recordação e repúdio pela atitude do Governo para com esta gente”, questionando mesmo se “é assim que se combate a desertificação?”, já que a qualidade de vida das populações passa também, a seu ver, pela proximidade dos equipamentos às populações que serve. Considerando o dia “triste e de grande infelicidade”, Litério Marques terminaria comparando as reformas na área da educação semelhantes às em curso na área da saúde: “não sei onde isto vai chegar”. Pena é que seja para fechar Por seu turno, Maria Alexandra Henriques agradeceu a presença dos pais com os quais mantém estreitos laços, por se tratar de uma aldeia tão pequena, localizada nas franjas da zona serrana do concelho, mas também à Câmara Municipal de Anadia e Junta de Freguesia de Vila Nova de Monsarros, por todo o apoio prestado, ao longo dos dois anos que aqui lecciona. Recordando as condições, outrora precárias da escola, defendeu que, agora, tem todas as condições para trabalhar: “trata-se de um edifício arranjado e com condições. Pena é que seja para fechar”. Também António Duarte, presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Monsarros, diria que “a obra se deve à professora, que foi muito persistente, mas também ao empenhamento e dedicação do professor Ângelo Santos, da Câmara Municipal de Anadia”. A seu ver, uma obra que “as crianças merecem, na medida em que a escola estava muito má, mas que agora têm condições para, inclusive, aqui fazerem as refeições”. Embora a Junta de Freguesia esteja disponível para continuar a colaborar, António Duarte remete a responsabilidade do encerramento para o poder central: “a culpa do encerramento não é nossa, mas, sim, do Estado que a quer encerrar”, avançando ainda aos presentes que, após o encerramento, a escola será entregue à população de Algeriz, já que a sua construção se deveu, há muito, à população. Uma inauguração singular Elói Gomes, presidente do Agrupamento de Escolas de Anadia, diria nunca pensar estar presente numa inauguração singular como esta, marcada pelo inevitável encerramento, embora seja uma escola acolhedora e a obra realizada notável. Uma inauguração, olhos postos no encerramento, situação que considerou “angustiante e contraditória”, já que o encerramento foi ditado por uma política nacional, estando, no concelho de Anadia, mais escolas nas mesmas condições. Elói Gomes falaria ainda da Carta Educativa do concelho, em elaboração neste momento, esperançado que a mesma “não se venha a mostrar um trabalho inglório, por causa das sucessivas mudanças implementadas por sucessivos Governos”. Refira-se ainda que, no próximo ano lectivo, já não vão receber crianças, para além da Escola de Algeriz, as Escolas de Vale de Avim (Moita), Alpalhão (Aguim), Canelas (Avelãs de Cima) e Couvelha (Vilarinho do Bairro). A Portaria 127 A-2007, de 25 de Janeiro, sinaliza ainda, no concelho de Anadia - ou seja, estão em discussão para eventual encerramento no ano lectivo de 2008/09 - os Jardins de Infância de Ancas, Grada e Ferreiros e as Escola Básica de Óis do Bairro, Outeiro de Baixo, Póvoa do Pereiro, Famalicão, Pereiro, Monsarros, Grada, Cerca, Candieira, Alféloas e Chipar de Cima, totalizando 19 estabelecimentos de ensino.
Catarina Cerca catarina@jb.pt |