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17-03-2008

No entanto, criticam demora da intervenção na Ria


Aveiro - Deputados municipais elogiam plano

A Assembleia Municipal de Aveiro, que sexta-feira apreciou o Plano Intermunicipal de Ordenamento da Ria, está preocupada com a demora na intervenção, questionando as razões para o atraso.

Esse foi o sentimento unânime das diferentes bancadas, que elogiaram o documento, destinado a servir de base a uma intervenção concertada na Ria de Aveiro.

A jurisdição sobre a Ria tem estado dispersa por inúmeras entidades e foi concentrada, recentemente, na administração da bacia hidrográfica, ainda em instalação.

Os canais e esteiros da Ria estão sem manutenção desde que essa competência foi retirada à administração portuária, e os problemas têm-se agudizado devido ao assoreamento, ao abandono das explorações de sal que travavam o avanço das águas e à intrusão salina em terrenos agrícolas.

"Qualquer dia não há Ria nenhuma!", comentou o deputado socialista Carlos Candal, salientando que já não é possível ir de barco de Aveiro a Vagos e para navegar até Ovar é preciso esperar pelas marés.

Carlos Candal recordou que desde 1975 que tem sido reclamada a intervenção dos poderes públicos para impedir o assoreamento da Ria de Aveiro, criando uma entidade gestora, sem resultados práticos.

"Congratulamo-nos com este plano, que é disciplinador. Quanto à entidade gestora, e o problema passa também por aí, tem havido 500 palpites. Quanto tempo mais é que se vai demorar para intervir? Se calhar, quando isto for implementado já não há Ria", disse, aludindo ao Plano Intermunicipal de Ordenamento, que classificou como "um bom trabalho interdisciplinar".

Manuel António Coimbra, do PSD, salientou que "é necessário intervir na Ria com conhecimento e boa aplicação, concluindo que o Plano Intermunicipal de Ordenamento demonstra que "já há conhecimento para juntar vontades e intervir".

Diogo Machado, do CDS, considerou o documento "um trabalho de grupo notável dos 10 municípios", questionando como é que o mesmo se liga com o Plano Nacional Estratégico para o Turismo, "que ignorou Aveiro", interrogando ainda "o que é feito da comissão instaladora da comissão hidrográfica, criada pelo governo".

Já Jorge Afonso, do Bloco de Esquerda, criticou o executivo PSD/CDS por se limitar a apresentar o plano, demonstrando "não ter qualquer ideia sobre o assunto".

Na mesma linha foi a intervenção de António Regala, do PCP, descrevendo "a paisagem desoladora, as marinhas de sal abandonadas e os perigos constantes para a navegação".

António Regala atribuiu os efeitos às obras que foram realizadas para a ampliação do Porto de Aveiro, que, ao provocar maior amplitude de marés para permitir a entrada de barcos de maior dimensão, veio destruir as motas(muros de protecção) das salinas.

"Há muito tempo que o organismo de gestão da Ria devia estar a funcionar e devia ter estudado esses efeitos, mas foi adiado sistematicamente", censurou.

Raul Martins, do PS, que já presidiu à administração portuária, salientou "o papel do Porto de Aveiro para o bem e para o mal do que acontece à Ria", afirmando que "se não fosse a abertura da barra artificial da Barra há 200 anos, hoje Aveiro não existiria sequer".

Sobre as obras portuárias recentes, admitiu que trouxeram "mais marés, mais água a entrar, o fim do moliço e a penetração da cunha salina nos terrenos do Baixo Vouga", mas defendeu que não foi a causa do abandono das marinhas de sal.

"Houve o fenómeno da emigração e a mão-de-obra difícil, de trabalho quase escravo, desapareceu. Os marotos foram para França e já não há feira dos moços, e sem eles não há marinhas.

A feira dos moços realizou-se em Aveiro até aos anos 70, em que a mão-de-obra braçal se oferecia aos contratantes para a safra do sal.

Os "moços", em dia certo, compareciam nos Arcos, junto ao Rossio, e eram escolhidos pelo seu aspecto físico, nem cerimonial com resquícios do tempo da escravatura.


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