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13-08-2008

São muitos os portugueses que adoptaram outros países


Meu querido mês de Agosto..

"Meu querido mês de Agosto, por ti levo o ano inteiro a sonhar, trago sorrisos no rosto, meu querido mês de Agosto, porque sei que vou voltar". A letra da conhecida canção de Dino Meira reflecte bem o espírito de milhares de emigrantes que, por esta altura, trazem um novo colorido à Bairrada.

As matrículas de cores e caracteres diferentes, o sotaque cantado e o "tilintar" de jóias ao pescoço e nos braços denunciam-nos à chegada. Para trás, ficou um ano de trabalho e saudade, que Agosto se encarregará de apaziguar.

José e Álvaro Ferreira rumaram ao Luxemburgo há mais de 30 anos. Irmãos, naturais de Oliveira do Bairro, tentaram a sorte por outras paragens em alturas diferentes (o primeiro em 73, o segundo em 76) e moram a cerca de 25 quilómetros um do outro. Casados com bairradinas (das Vendas da Pedreira e de Amoreira do Repolão), não prescindem de passar todos os anos uns dias em Portugal.

José Ferreira, 43 anos, chegou com a esposa e os três filhos no dia 23 de Julho e partirá exactamente um mês depois. Durante este período aproveitará para estar com a família, pais, irmãos, sobrinhos... sim, porque a família é grande.

Optou pela nacionalidade luxemburguesa, desde os 18 anos. Gosta de vir a Portugal "rever a família", mas confessa que agora são os filhos que o pressionam. "Venho mais por causa deles, gostam muito de estar com os primos e de ir à praia."

No resto do ano, as saudades vão-se matando pelo telefone e no Natal: "guardo sempre duas semanas para cá vir nessa altura". O resto do tempo é passado num "corre corre". A sociedade que mantém numa empresa de protecção solar de janelas e os compromissos familiares não lhe deixam muito tempo livre. "A vida no Luxemburgo é diferente, é muito stressante. Lá é tudo a correr, o ano passa-se a correr. Aqui a vida parece que está parada." Talvez por já estar habituado ao ritmo, voltar à terra natal não faz parte dos seus planos.

Visão oposta tem o irmão Álvaro, mais velho oito anos. "Tenciono voltar um dia e o mais brevemente possível", lança desde logo. Admite que gosta de estar em Portugal e que cada vez que vem "é uma alegria". Ir à pesca em Perrães, Silveiro ou Fermentelos, fazer praia, visitar Fátima e Lisboa, assistir a uma partida do seu FC Porto, ir com a esposa ao shopping e conviver com a família são etapas de um roteiro de que não abdica. A previsão de regresso aponta para um limite de cinco ou seis anos. Até lá, procurará tirar o maior proveito de um nível de vida que em Portugal diz não encontrar.

"Do coração sou português". João Brandão, 44 anos, nasceu em Sangalhos e, quando está em Portugal, é na Lavandeira, concelho de Oliveira do Bairro, que assenta arraiais. JB foi encontrá-lo horas antes da partida para França, onde está desde os 9 anos, com os pais e os irmãos.

Casado com uma francesa, também ele é francês no papel, "mas do coração sou português", afirma peremptório, enquanto aguarda, à mesa de um restaurante em Oliveira do Bairro, pelo jantar que marcará a despedida de 12 dias "que voaram".

Agora, são os dois filhos que pedem para vir passar férias a Portugal. "Sentimo-nos em casa", respondem em francês. E, quando se fala em futebol, é por Portugal que torcem, mesmo que o adversário seja a selecção gaulesa. "Mas não fui eu que os incentivei", alerta desde logo João Brandão.

Ao seu lado estão Maria Isabel Silva e Albino Brandão, os pais que há 35 anos partiram ao encontro de uma vida melhor. Agora, aproveitando a reforma, passam dois a três meses por ano na Bairrada. "Gosto de aqui estar, sinto-me bem. O meu país é Portugal", declara emocionada Maria Isabel Silva.

O aroma que chega da cozinha vai abrindo o apetite e antecipando a saudade. "Faz-me falta o meu país", acrescenta João Brandão. "Quando estamos, fazemos praia e vamos comer ao restaurante, o que em França não fazemos todos os dias", admite. Mas voltar a Portugal não está nos planos. "A minha vida é lá..."

A cozinheira pergunta se pode servir. Na travessa, a dourada assada na brasa vem a fumegar.

Divididos entre o apego a Portugal e a vida no Canadá

Em 19 anos de Canadá é a quarta ou quinta vez que vêm a Portugal. Fátima Monteiro e Francisco Pinheiro da Silva, naturais da Moita e de Famalicão, estão de novo no país para mês e meio de férias. E desta vez conseguiram convencer o filho, Daniel Filipe, de 20 anos, a acompanhá-los.

É pela "família" que vêm. Pelo convívio, quase diário, em torno de uma mesa rara de encontrar em Toronto: com muitos amigos e familiares e petiscos como "os negalhos da mãe, acompanhados do espumante da Bairrada, muito difícil de comprar no Canadá", explica Francisco da Silva.

Foram, de facto, emigrantes nos primeiros anos. Estiveram 12 anos sem vir ao país de origem e, nesses tempos, pairava ainda a ideia de construir património aqui, a pensar no regresso. Com o passar do tempo, aproximaram-se da sociedade canadiana.

Emigrantes hoje? "Sim, mais ou menos". Porque gostam de Portugal, identificam-no como o seu país, mas, em simultâneo, adoptaram o Canadá para viver. E o regresso não está nos seus planos. "Não, por enquanto não. Gosto de viver no Canadá, de trabalhar e receber o ordenado correspondente", diz Fátima Monteiro.

Com casa própria já comprada em Toronto, Francisco da Silva é ainda mais categórico. "Gosto de lá estar, de viver, do trabalho, das pessoas", afirma.

O filho, Daniel Filipe, é um dos motivos que os prende ao Canadá. "Não foi muito fácil convencê-lo a vir, mas aceitou. Vai é mais cedo do que nós".

Vive em Toronto desde os cinco anos e de Portugal reconhece ter apenas as referências "da família e do Benfica". "Sou português, mas a minha casa é no Canadá", diz, confessando-se já arrependido de ter acedido a vir com os pais um mês inteiro. "Já estou a ficar farto, não tenho nada para fazer. Tento aproveitar ‘as much as possible", refere, numa mistura natural do português com o inglês.

A mudança é enorme. No Canadá vive na maior cidade do país, capital da província de Ontário, com 2,5 milhões de habitantes, quase sete milhões se se tiver em conta a área metropolitana. Em Portugal passa a maior parte do tempo entra as aldeias de Famalicão, Moita, e, este ano, a Praia da Costa Nova. Ainda assim encontra, no dia a dia, aspectos positivos. "Aqui as pessoas são mais simpáticas, dizem sempre bom dia, olá".

Enquanto está de férias, quer aproveitar o Verão para ir a uma "party, a um club", vai tentar ir ao Algarve. Para já vai matar alguns dias na visita a um amigo que, como ele, está de visita à terra natal, em Braga.

A aventura asiática e africana para quem vai por alguns meses

São muitos os novos emigrantes temporários. Vão por uns meses, um par de anos, para endireitar contas, cumprir novos desafios ou fazer um pequeno pé de meia. E os destinos são cada vez mais longínquos e exóticos. Os portugueses estão a (re)descobrir paragens por toda a África e Ásia.

Miguel Maia esteve mais de dois meses na China; José Almeida passou os últimos quatro em Angola. Ambos a trabalhar para empresas portuguesas, viram-se no meio de sociedades que nada têm que ver com a europeia e portuguesa e regressaram com experiências, com histórias de outras gentes e com a certeza do regresso. Pelo país e pela família. "Não posso dizer que me tenha sentido um outsider. Não senti a China oprimida e fechada, pelo contrário, fomos muito bem recebidos, apesar de na cidade onde estávamos, próxima de Xangai, não haver estrangeiros", diz Miguel Maia.

A língua era uma dificuldade, mas os gestos, "a escrita no telemóvel" e a vontade de aprender alguma coisa de mandarim ajudaram à comunicação. Ainda assim, apesar de considerar positiva a ida, nunca considerou a hipótese de trabalhar por mais tempo fora de casa. "Dois meses já era tempo demais, era muito tempo fora da família. Se fosse solteiro, sem filhos, sem responsabilidades, ainda podia ponderar, mas actualmente não", afirma Miguel Maia.

Sentimento semelhante tem José Almeida. Apesar de ter nascido em Angola, Luanda não é, de todo, a cidade que idealizou para viver. Em África encontrou "desorganização" e "uma cultura de trabalho e de vida muito diferente da portuguesa".

"É tão bom andar aqui, ir a Aveiro ou a Coimbra, tranquilo, sem olhar para trás por causa dos assaltos, sem pensar em doenças, com o trânsito organizado e as ruas limpas", sublinha, afirmando que, depois desta experiência sente que dá mais valor a Portugal.

São emigrantes? "Não sei, se calhar somos", afirma José Almeida sem, no entanto, estar muito convencido da classificação.

São muitos os novos emigrantes portugueses que fogem ao estereótipo do "emigra": procuram, como os de antigamente, melhores condições de vida, mas não levam apenas a mala de cartão e a vontade de vencer na vida. Levam qualificações e saber que lhes permitem ir para fora com bons cargos e os ordenados correspondentes. Por muito tempo? "Não, penso que apenas o suficiente para ganhar algum dinheiro", diz José Almeida.


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