Conhecemos sobejamente as hipocrisias, mistificações e enganos em que as várias diplomacias nos enredam. A justificação das guerras é apenas um capítulo dessa arte.
Avaliemos o mais recente conflito caucasiano nessa perspectiva mas também na manutenção dos interesses em territórios que sempre causaram as mais complicadas e longas guerras na Europa. Saakachvili, Presidente da Geórgia, assinou o plano de paz Medvedev-Sarkozy - apresentado pela imprensa pró-Kremlin como tendo sido idealizado por Dmitri Medvedev com a contribuição da UE. O Presidente Francês não desarma e aproveitou a ocasião para se "mostrar" e tentar passar a mensagem da importância da Europa. Todos sabemos que o acordo arrefecerá o conflito emergente mas não servirá nunca de base séria de partida para resolver os problemas acumulados no Cáucaso depois da implosão da ex-URSS.
O exemplo da imposição da independência do Kosovo está agora a ser oportunisticamente vingado em dobro pela Rússia. O grande país, ainda nostálgico do sucesso imperial, aproveita agora a crise do petróleo para jogar a sua influência na região caucasiana onde foi perdendo domínio. O Kremlin advoga que a solução encontrada para o Kosovo é um precedente para a Ossétia do Sul e a Abkházia usando os mesmos processos e argumentos invocados pelos Estados Unidos e UE nessa disputa. Nem tenho grandes dúvidas que para isso venha até a reconhecer a independência do Kosovo para ganhar ditas "colónias". Fica a ganhar 2 a 1 mas ainda pressiona eficazmente a Ucrânia e a Polónia a pensarem bem na sua desejada aliança com a NATO.
Nestes jogos de estratégias de influências o que sempre menos pesa são infelizmente as populações mas uma coisa perdura - os centros de decisão ocidentais têm cada vez mais tácticas de curto prazo e cada vez menos estratégias que lhe possam trazer vantagens de influência a médio/longo prazo.
António Granjeia*
Director