Vivemos uma época que ameaça valorizar mais o marketing do que próprio produto. Mas isso não é por defeito das regras da comercialização em geral ou daqueles que teorizaram o que hoje se chama normalmente de marketing. O que tem mudado são os valores sociológicos com que percepcionamos as coisas a que realmente damos valor, ou talvez de forma mais absurda, aquelas a que permitimos que os outros nos digam que têm maior importância.

Hoje vi anunciada uma das medidas do simplex: a publicação dos preços das gasolinas na internet. Já por si, anunciar este tipo de medidas tão singelas com pompa me faz alguma confusão, mas transformá-las em medidas de carácter governativo é uma coisa quase extraordinária. Controlar e fiscalizar os preços das gasolinas é uma das tarefas dos governos; faz parte do seu trabalho. Anunciar na internet é uma inevitabilidade dos tempos modernos e apenas uma consequência da acção fiscalizadora dos governos. O anúncio dos preços não nos garante em nada que os preços dos combustíveis estejam a ser bem construídos e que os cartéis não actuem à margem da lei. A par deste anúncio, que garantias nos dá o governo do verdadeiro controlo destas questões?

Voltando ao início deste pequeno escrito, é cada vez mais importante estarmos focalizados naquilo que realmente nos interessa, marcarmos a nossa agenda de prioridades e não permitirmos que nos determinem as nossas necessidades. Isso é absolutamente essencial num ano de eleições como o que estamos a viver para podermos decidir dos verdadeiros assuntos estruturais para Portugal como Nação. Saber como resolveremos o problema do desemprego, da organização das empresas, do trabalho, da produtividade, a sustentabilidade da segurança social e tantas outras tão importantes. Por isso tenho dificuldade em compreender que nos massacrem com devaneios quase estratosféricos como saber da importância de casamentos de pessoas do mesmo sexo nesta altura do campeonato.