A direcção do Museu da Palhaça, transcorridos doze anos sob a fundação formal do Museu (já estava a funcionar tempos antes, quando tal aconteceu) vai homenagear as duas figuras incontornáveis e indissociáveis que estiveram na sua génese: padre Manuel Oliveira e Adelino Baptista, ambos do outro lado da vida. Com justiça e oportunidade. O evento, que terá a presença do bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos (e possivelmente ainda a do bispo emérito, D. António Marcelino, que outorgou a fundação) terá lugar no próximo dia 13, domingo, a partir das 15 horas, na própria igreja de Vila Nova, com dois momentos distintos, mas, sem dúvida, interligados: uma sessão solene, também com a presença de autarcas, seguindo-se depois o descerramento dos retratos das duas figuras em apoteose e de um medalhão comum.
Nunca um armazém de coisas. As razões deste justo evento são três: a maior, sem dúvida, é a homenagem póstuma. Uma segunda será mostrar, na sua nova feição, a igreja, que é a base da constituição e construção do Museu, podendo-se considerar como um dos grandes módulos, depois das obras de restauro, na sequência de alguma deterioração; a terceira é mostrar o restauro de alguns módulos. A data não tem significado especial. Houve dificuldade em escolher uma. "Trata-se simplesmente de um acto de louvor, sem estar a olhar a datas" - disse a JB António Capão. É que, se a data da fundação é de 5/11/1996, já estava a funcionar há tempos, " já haviam feito umas coisinhas"? Diga-se que o Museu é diocesano e assim foi decidido, para evitar tentações da parte dos poderes políticos.
Caberá ao escritor e filólogo, António Capão, como director do Museu, fazer a intervenção de fundo, depois da abertura pelo pároco, padre José Augusto. A sua alocução visará alertar para a necessidade da preservação da estatuária existente, alguma envolta em brisas de mistério, quanto à sua proveniência. Uma das peças que mais o preocupa é a imagem de S. Pedro. Pela antiguidade e com alguns maus tratos, motivados pelas saídas à rua em tempo de procissões. Por outro lado, não deixará de alertar, naturalmente, para o espaço sagrado que constitui não só o templo em si, mas também o espaço envolvente, que foi cemitério dos antepassados, no tempo do "velho curato", enquanto não surgiu o cemitério
Preocupado está também com a falta de espaço, para expor todo o diverso e rico espólio, recolhido ao longo dos anos. É tão diminuto que a Biblioteca anda dividida entre o Museu e uma sala da JF, por empréstimo. António Capão defende, tenazmente, que "um museu nunca pode ser um armazém de coisas", mas tem de ser rico culturalmente e sob o aspecto social. E adianta: "estamos a pensar em lançar várias actividades relacionadas com o coleccionismo para as crianças", mas também para outras faixas etárias, de modo a criar laços entre a instituição e a comunidade.
Os reatratos. O segundo acto do mesmo evento (momento de emoções e memórias) será o descerramento dos dois retratos: um do padre Manuel Oliveira e o outro, de Adelino Baptista, respectivamente pela viúva, Edma Vieira, e Basílio Oliveira, o sobrinho mais próximo de quem foi pastor de almas, na freguesia da Palhaça, por um período invulgar de meio século. Os retratos irão ficar na parede do lado esquerdo, no corredor de acesso ao Museu, enquanto o medalhão comum, a descerrar por D. António Marcelino, irá fazer memória, no lado oposto e antes da porta da antiga sacristia (módulo da estatuária e paramentaria)
Armor Pires Mota
